Do total de 15 milhões de VW fabricados no Brasil, o Gol responde por
quase um terço das vendas. Desde que foi lançado, em maio de 1980,
foram 4 milhões de unidades, ao longo de três gerações. Não por
coincidência, ele é o campeão de vendas há 18 anos. Ele foi concebido
para a indigesta missão de suceder o Fusca, do qual herdou parte da
mecânica e quase pagou caro por isso. Mas, corrigida a derrapagem na
saída, o Gol não amarelou e em 2001, com 3,2 milhões de unidades
produzidas, mandou para escanteio o recorde de carros vendidos no
Brasil, que era justamente do Fusca. O sucesso começou a tomar forma
cinco anos antes do lançamento, numa sala da fábrica de São Bernardo do
Campo (SP). Mais precisamente, a sala do pessoal de estilo. A VW do
Brasil estava sob o mandato do carismático Rudolf Leiding, que sairia
daqui pouco depois para assumir a presidência mundial, em 1976. Leiding,
um freqüentador bissexto do setor de projetos nos fins de tarde,
acompanhava de perto o trabalho de três entusiasmados projetistas:
Márcio Piancastrelli, o chefe, José Vicente Martins, mais conhecido como
"Jota", e George Oba. Diante do avanço do Chevette e do fato de o Fiat
147 já estar na rampa de lançamento, os três iniciaram estudos para um
carro compacto com motor dianteiro refrigerado a ar, aproveitado do
Fusca. Entre as premissas do projeto estava o consumo. Vale lembrar que a
fábrica já dispunha de uma opção bem mais moderna de motor, o 1.5
refrigerado a água do Passat, lançado em 1974. Mas a produção não estava
preparada para suprir a demanda desse motor no caso de um carro de
grande volume de vendas, destino previsto - e depois confirmado - para o
projeto BX, que viria a ser chamado de Gol. O nome Angra também chegou a
ser cogitado, mas foi descartado por lembrar as usinas nucleares de
Angra dos Reis, projeto polêmico dos anos 70.
O motor
podia ser o já esgotado 1300, mas a estrutura do Gol era totalmente
nova. "A ordem era abandonar o 'bacalhau' e colocar o motor a ar na era
monobloco", diz Piancastrelli, referindo-se ao eclético chassi com o
protuberante túnel central.
Por questões de praticidade - mas
principalmente para facilitar a aprovação do projeto -, o trio de
designers foi deslocado para o QG da Audi, do mesmo grupo VW, localizado
em Ingolstadt, na Alemanha. Parada dura, o "nosso" projeto disputava
com o trabalho desenvolvido pelo pessoal da matriz, em Wolfsburg. Ainda
que os três tenham voltado vitoriosos para cá, eles são unânimes em
dizer que os colegas da matriz deram sua contribuição ao nosso primeiro
Gol. Durante o período de testes, acreditava-se que as formas do Gol
seriam as do Audi 50, gêmeo do Polo. Pelo menos foi sob esse disfarce
que rodaram os primeiros protótipos, que tinham a frente semelhante à
dos antigos Passat com faróis redondos.
Quando finalmente os
primeiros Gol chegaram às mãos dos proprietários, a decepção só não foi
maior porque a imprensa especializada havia antecipado o que todo mundo
já presumia. Além do desenho moderno - não faltaram os que criticaram
sua traseira "cortada a machado" -, ele tinha qualidades como espaço
razoável para os passageiros de trás, porta-malas compatível com a
proposta do carro e a possibilidade de acomodar mais carga com o banco
traseiro rebatido. E os passageiros da frente contavam com cintos de
segurança de três pontos retráteis. Mesmo com ignição eletrônica e
contando com aperfeiçoamentos que lhe valeram 4 cavalos a mais que o
Fusca 1300, o Gol se mostrou preguiçoso e nem tão comedido diante da
bomba de gasolina. No primeiro teste feito por QUATRO RODAS, ele demorou
30,27 segundos para ir de 0 a 100 km/h. E a média de consumo ficou em
12,38 km/l, número aquém do esperado para um carro de sua categoria. A
estabilidade proporcionada pela moderna suspensão e a direção precisa
foram motivo de elogios no teste, assim como a novidade do câmbio, que
dispensava troca de óleo.
Não demorou para que a VW oferecesse a
opção com motor 1600 com dupla carburação, nas versões de acabamento L e
LS. E conseguisse solucionar um crime, o roubo de espaço do porta-malas
pelo estepe, instalado atrás desde o aparecimento do Gol a álcool, com
dupla carburação. De volta ao devido lugar, o vilão foi condenado a
passar a vida deitado com a parte côncava da roda sobre o carburador,
encobrindo o filtro de ar. Elementar, meu caro...
"O 1300 foi um
chute para as arquibancadas; o 1600 é um Gol." Foi com essas palavras
que o jornalista Claudio Carsughi iniciou o texto do primeiro teste do
novo motor, na edição de março de 1981. Com 66 cavalos, o carro acordou e
baixou o tempo do 0 a 100 em nada menos que 12 segundos (!). A máxima
passou de 128 para 139 km/h. E ficou mais econômico, com uma média de
13,4 km/l.
Aproveitando o ano do mundial de futebol na Espanha, em
1982, a VW lançou uma série especial, o Gol Copa. É o modelo que
ilustra esta reportagem, e que contava 30000 quilômetros no hodômetro
quando foi fotografado. Tinha alguns itens exclusivos, tais como a cor
azul-metálico, rodas de liga leve e faróis auxiliares, além de pneus
radiais de série.
Em março de 1984, uma versão esportiva do Gol
inaugurava o uso do motor refrigerado a água no modelo. Era o Gol GT
1.8, uma versão esportiva com o motor que viria a equipar o Santana com
comando de válvulas importado do Golf GTi, capaz de ir de 0 a 100 km/h
em 11,7 segundos. Tinha rodas de alumínio aro 14, faróis de longo
alcance, grade na cor da carroceria e spoiler. No entanto, o motor a
refrigerado a água só seria incorporado à linha Gol em 1985, com os
famosos AP 1.6. Em 1988, o Gol GTi 1.8 trouxe para o Brasil a era da
injeção eletrônica.
Em 1990, o modelo intermediário do VW Gol, o
CL, era movido por um motor 1.6 Ford, fruto da associação entre as duas
montadoras, a Autolatina, um acordo que durou até 1996.
Para
enfrentar o Mille, em 1992, veio o despojado Gol 1000, que fazia o papel
de carro de entrada, o eleito dos frotistas. Sobreviveu até 1996,
quando transformou em passado a fase "quadrada" e o carburador, na linha
Gol. Em setembro de 1994 iniciou-se o reinado do Geração II, que ficou
conhecido como "Bolinha" - uma história que fica para outra vez.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito boa a matéria aprendi bastante, não sabia que no gol 1000 tinha dupla carburação e nem da edição da copa de 82.
ResponderExcluirQueria ter mais materiais sobre o gol 1000 pois estou pensando em pegar um e também de aprender mais sobre essa máquina fantástica !